Semana passada, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou dados sobre o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Dizia a matéria da Assessoria de Comunicação:
"MMA divulga queda no desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado
Sistema do Inpe registra redução do corte de árvore de 7,1% entre agosto de 2010 e fevereiro de 2011 na Amazônia. No Cerrado, a taxa anual de derrubada, que era de 14.179 mil Km² entre 2002 e 2008, caiu para 7.637 mil km² entre 2008 e 2009"
Como esses números do desmatamento estão sempre caindo, muitos colegas ficaram até duvidando, pois os números não batem com a impressão que temos ao rodar pelas estradas do país. A resposta para o desencontro de impressões está nas apresentações disponibilizadas pelo próprio MMA.
A matéria destaca a queda do desmatamento 2008/2009 em relação à média dos anos anteriores. Isso pode ser visto no seguinte gráfico do MMA, usando dados do CSR/Ibama para comparar 2008/2009 com o período 2002-2008:
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Taxa anual média do desmatamento do Cerrado |
Na gestão anterior, da ex-Ministra Marina Silva (o leitor desavisado leria nas entrelinhas), o desmatamento era maior, certo? Bem... não, errado. Tudo continua como era antes. Veja o seguinte gráfico, onde a equipe do MMA apresenta os dados por ano (dessa vez com dados do SIAD - Lapig/UFG, que são bem menores que os dados do CSR/Ibama, mas que devem ser comparáveis entre si - isto é, ano a ano estimado pelo SIAD-Lapig/UFG):
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Área anual de desmatamento do Cerrado |
A forma como os dados foram formatados para divulgação é intrigante. Mas é interessante ver que o desmatamento no Cerrado caiu ao mesmo tempo que na Amazônia. Costuma-se argumentar que os esforços de reduzir o desmatamento da Amazônia estariam vazando para o Cerrado. Julgando superficialmente pelos números acima, parece que não. Ao contrário, parece que um estado fortalecido e o combate à corrupção feito pela Polícia Federal no governo Lula resultaram na queda do desmatamento de forma geral no país.
As commodities e a crise
Poderia ter sido por causa de uma queda do preço das commodities ou da crise econômica de 2008? A crise pode ter tido impacto nos números de 2008/2009, mas como vimos, os números já tinham tido uma redução brusca desde 2004/2005. Então, não foi a crise. Poderiam ter sido os preços das commodities? De acordo com um artigo escrito por Serrano e Ferreira (2010),
O índice de preço internacional das commodities, exceto o petróleo, (do IPEA) se apresentou oscilante entre 1994 e 2003, principalmente até 2001. Depois de 2003, apresenta um crescimento contínuo, até um pico em meados de 2008, quando novamente inicia um período de queda.
Veja o gráfico apresentado pelos autores, que ilustra o que foi dito por eles:
Então, temos algo surpreendente: o preço das commodities tem subido, a economia tem crescido, e o desmatamento vem caindo... Acho que isso reforça a minha hipótese: a governança vem fazendo diferença maior do que a economia. Como testar essa hipótese? Conversando com André Lima, ele me sugeriu uma análise em nível subregional, verificando se o desmatamento caiu justamente onde a governança aumentou. Seria mesmo um teste interessante, mas eu me pergunto se causas gerais, como um clima de mudança na gestão ambiental, não poderiam causar esse resultado mais geral de toda forma. Os dados pedem mais análise!
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ResponderExcluirSobre os dados: fui alertado de que poderia ser problemática a comparação dos diversos períodos, pois os dados viriam de fontes diferentes. Acho que não, pois os dados do período em discussão vêm todos do mesmo CSR/Ibama
ResponderExcluirIsto é, os dados da comparação entre 2008-2009 e a média dos anos 2002-2008 vêm do CSR, e os dados anuais vêm do SIAD (Lapig/UFG). Existe, portanto, comparabilidade interna dos dados para cada figura acima.
ResponderExcluirUm outro comentário que recebi no Facebook propõe mais uma explicação para a queda do desmatamento: na medida em que o desmatamento avança, as área interessantes para desmatar (no Cerrado, as área planas e de solo propício ao agronegócio) vão acabando ou se tornando inacessíveis. Não tenho no momento os meios técnicos para testar essa hipótese. Seria um bom assunto para as equipes do MMA, CRS/Ibama e UFG.
ResponderExcluirAh! O comentário do Cristiano Nogueira. obrigado!
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