Por Ronaldo Weigand jr.
Com uma conferência tão grande e tão espalhada como a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, cada
um acaba tendo uma impressão diferente. Foi um sucesso? Foi um fracasso? A
sociedade civil foi o fator mais importante? Os governos fracassaram? Depende
um pouco de sua expectativa, de seu posicionamento político, o quanto estava
envolvido com os desafios da Conferência e, claro, de por onde andou.
Porém, existe sim um consenso de que o desejável não foi
alcançado: as nações não conseguiam se entender em torno de um documento com
metas, recursos e prazos, e evitaram colocar no texto termos que as
comprometessem com questões específicas que ameaçavam seus interesses
imediatos.
Quem vê a Conferência como um evento isolado de um processo
deveria ficar contente, afinal, os países foram capazes de evoluir em poucos
dias de um documento em que se tinha 30% de concordância para algo que todos
puderam assinar. Entretanto, quem vê a Rio+20 como um evento que começou antes,
como um processo mais longo, sente que não alcançou, ao final da Conferência, o
que deveria ter alcançado. Mas há ainda aqueles, como parece ser o caso da
diplomacia brasileira, que propõem que a Rio+20 ainda não terminou, pois se
estabeleceram somente as bases para negociações que deverão durar mais alguns
anos. Assim, o processo seria mais longo, com uma fase pré-Rio+20 e outra
pós-Rio+20.
Um problema conjuntural (a crise internacional) atrapalhou a
celebração do que seria importante. A Rio+20 é como o aniversário de casamento
que cai em meio a uma crise financeira da família: o casal sente-se obrigado a
botar a melhor roupa, ir a um restaurante, fazer algo especial, mas não
consegue realmente celebrar, pois a crise do momento atrapalha. A data (+20)
obrigou os países a discutirem esses assuntos de longo prazo numa má hora para
suas economias, em que se procuram soluções de curto prazo. “O Futuro que
Queremos” (título do documento da Rio+20) ficou difícil de pensar.
Enquanto os governos nacionais resistiam a compromissos
reais, a Sociedade Civil, supostamente representada nas tendas armadas na
Cúpula dos Povos no Parque do Flamengo, criticou e protestou. A Cúpula dos
Povos foi um espelho da Conferência oficial: de um lado, no Parque do Flamengo,
uma multidão de participantes que eram contra tudo, e de outro, os governos
nacionais no Rio Centro que não eram a favor de nada.
Porém, Cúpula dos Povos parecia vazia de propostas viáveis
ou significativas na escala do que o planeta precisa e resolveu ressuscitar até
mesmo o combate ao capitalismo e pregar rupturas com o sistema (em 1992, três
anos depois da queda do Muro de Berlin, esse discurso ficava difícil). Além disso, por ser
aberta a todos (ao contrário do Fórum Global em 1992), acabou invadida pelos
brasileiros, não só movimentos sociais, mas pelos próprios cariocas, deixando
de ser um espaço representativo do planeta e tornando-se uma feira de eventos
predominantemente nacional. No final, mesmo assim, a Cúpula (ou a cúpula da
Cúpula) sentiu-se legítima para avaliar a atuação dos governos, afinal, era seu
papel, mas seria interessante ver como se sairia se fosse ela própria a
avaliada...
Propostas e compromissos foram apresentados e firmados por
prefeitos, governos estaduais, empresas e ONGs profissionalizadas ou com foco
empresarial – longe da Cúpula, seja bem dito, em uma série de outros locais,
como o próprio RioCentro, o Parque dos Atletas, a Arena da Barra, salões de
eventos em hotéis, teatros e outros locais pulverizados na cidade. Esses atores
apresentaram abordagens práticas do que seria a tal Economia Verde, reuniram
especialistas com um olhar detalhado sobre as políticas públicas, e soluções
factíveis e com potencial de fazer a diferença foram apresentadas. O problema é
que, sem o poder dos governos nacionais, fica difícil implementar essas
soluções. Sem um acordo de metas para as nações, esses compromissos e
iniciativas perdem parte de seu apelo e dos recursos que poderiam ser a eles
destinados.
O governo brasileiro foi muito criticado pelos participantes
da sociedade civil na Rio+20. No entanto, o país apresentou suas boas
iniciativas e resultados do governo federal, como a queda do desmatamento, o
Programa Áreas protegidas da Amazônia e o combate à miséria com preocupação
socioambiental. Ou seja, algumas coisas não foram parar no texto oficial e
parecem desconectadas do quadro de retrocesso ambiental pintado pelos
ambientalistas, mas já estão acontecendo.
O Brasil, nesse contexto, ajuda e atrapalha. Ajuda, pois sua
diplomacia oficial de resultados foi eficiente para manter a relevância das
negociações multilaterais fundamental para ONU (sair sem um texto da Rio+20
seria o pior resultado). Atrapalha porque a abundância de nossos recursos
naturais, nossas contradições internas e nossa capacidade econômica para
resolução dos problemas de sustentabilidade sem ajuda externa escondem a
urgência que uma ação coletiva global para salvar o planeta ainda tem para
outras nações menos desenvolvidas e para constranger os países mais ricos a
acelerarem suas mudanças em direção à sustentabilidade. Somos, como potenciais líderes globais da
sustentabilidade, vítimas de nossa própria força. Os desafios da Rio+20
continuam, pois esta é uma conferência que ainda não terminou...
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