5.6.13

De onde virá o dinheiro? Desafios para a captação de recursos para a conservação

A crise econômica tem causado não somente uma diminuição dos recursos internacionais para projetos de conservação mas também uma mudança na sua ênfase: de projetos que apoiam a estruturação de serviços públicos (como a implementação de unidades de conservação) para projetos que lidam com os efeitos dos mercados sobre a conservação. Pelo menos foi a impressão que tive ao conversar com várias pessoas ligadas aos "doadores" de recursos nos EUA e Europa. 

Outro efeito da crise é uma nova priorização das regiões para onde os recursos serão destinados e a má notícia é que nós (o Brasil e a América do Sul) já não somos prioridade da cooperação internacional, cuja a ênfase estará centrada na África e algumas partes da Ásia.

Bem, se antes se imaginava uma conspiração internacional contra o Brasil, promovida pelos ambientalistas estrangeiros, que propunham áreas protegidas e fortalecimento das comunidades tradicionais, agora o confronto deverá ser mais direto ainda contra o agronegócio baseado no uso insustentável dos recursos naturais: o efeito vai se dar nos preços das commodities e no acesso aos mercados. Aparentemente, a forma como isso vai ser articulado ainda está em gestação, mas é difícil não imaginar que haverá restrições aos produtos originários de cadeias de produção insustentáveis e causadoras do desmatamento.

Provavelmente, deverão ser articuladas barreiras comerciais a esses produtos, uma forma de os países ricos terem duplo ganho ao promover o meio ambiente: de um lado, forçam a sustentabilidade nos países exportadores; de outro, protegem suas economias dos nossos produtos agropecuários, produzidos com o subsídio da destruição ambiental, e reduzem a necessidade seus próprios subsídios. A discussão ambiental vai migrar para a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Podemos imaginar que haverá grande ênfase em instrumentos de verificação de origem, medidas de sustentabilidade ambiental que deverão ser adotadas pelos produtores que buscarem os mercados da América do Norte e da Europa, certificação, etc.

Unidades de conservação não verão muito desse dinheiro e devem se preparar para viver do orçamento, de outras fontes nacionais (como investimento social privado nacional, compensação ambiental, ICMS ecológico, etc.) e de "negócios" (como concessões para a visitação e recreação, e cotas de reserva ambiental - CRAs).

Será bem diferente do que temos tido até hoje, com dinheiro internacional fácil e sem muita necessidade de se convencer o doador de que a causa é importante. Nossas fontes nacionais precisarão ser convencidas e nossos consumidores e eleitores precisarão ser educados para que esse tipo de investimento por atores privados e públicos seja recompensador às empresas e aos governos.  

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