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Unidades de conservação e populações locais: conflito ou sinergia positiva?

Moradia na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, PA
Até recentemente, a relação entre conservação e benefícios socioeconômicos para as comunidades locais era uma questão de opinião. Mas isso está começando a mudar com novas evidências científicas. 

No campo das unidades de conservação o debate sempre foi quente, e por vezes rude. 
De um lado, preservacionistas que veem nas populações locais uma ameaça à conservação. De outro, os defensores das comunidades, que apostam que a conservação é possível com as comunidades. 
Para eles, as comunidades nas áreas protegidas e no seu entorno são guardiãs da natureza, acusam os preservacionistas de violar direitos ancestrais das comunidades. Quem está certo? Até recentemente, era uma questão de opinião, pois faltavam estudos abrangentes avaliando a relação entre comunidades, benefícios socioeconômicos e conservação. Mas isso está começando a mudar...

Os melhores resultados não estão nem na gestão pela comunidade, nem na gestão pelo Estado; mas sim na cogestão.



Em 2016, Johan Oldekop e seus colaboradores publicaram um artigo na prestigiada revista Conservation Biology para contribuir para o fim dessa controvérsia. Saindo do achismo, o trabalho faz uma busca sistemática da literatura (uma busca usando palavras-chaves padronizadas em mecanismos de busca especializados em artigos científicos e utilizando padrões de seleção bastante específicos). Encontraram trabalhos científicos em revistas especializadas revisados por pares (peer-reviewed) sobre 160 áreas protegidas ao redor do mundo.

Nesta amostra de trabalhos, codificaram as variáveis relacionadas com conservação e benefícios socioeconômicos e processaram análises estatísticas para identificar relações entre essas variáveis. As conclusões dão argumentos a quem defende as comunidades: 65% das áreas protegidas em que os benefícios socioeconômicos são relatados têm maior também são mais conservadas. Não somente isso, os benefícios socioeconômicos ocorrem mais nas unidades de conservação em que a gestão procura envolver as comunidades. Assim, quem procura envolver as comunidades na gestão consegue tanto mais benefícios socioeconômicos como mais conservação!

É o fim da controvérsia? Provavelmente, não. Os argumentos dos dois lados vão além das evidências e representam ideologias arraigadas. Mas é um primeiro passo. É preciso ir além da percepção pessoal de cada um e usar a evidência científica disponível.

Entretanto, outros aspectos do estudo desafiam as percepções tanto de preservacionistas como de defensores das comunidades: os melhores resultados não estão nem na gestão pela comunidade, nem na gestão pelo Estado; mas sim na cogestão.  

Leia mais: OLDEKOP, J. A. et al. A global assessment of the social and conservation outcomes of protected areas. Conservation Biology v. 30, n. 1, p. 133–141 , 2016.