Unidades de conservação são obstáculos ao desenvolvimento?
Por incrível que pareça, apesar dos debates acirrados sobre os impactos a criação de unidades de conservação no desenvolvimento local, trabalhos científicos com boa metodologia são raros. Na Bolívia, um estudo da Georgia State University aponta que a pobreza diminui mais nos municípios com unidades de conservação que naqueles sem proteção.
As unidades de conservação (UCs) são, frequentemente, acusadas de serem obstáculos ao desenvolvimento. Seus inimigos usam argumentos sobre pobreza, criando uma situação em que se deve escolher ou conservar a natureza ou diminuir a pobreza. É uma questão difícil pois há uma sobreposição entre áreas interessantes para a conservação e populações pobres - mas isso não quer dizer que uma coisa cause a outra. O debate é acalorado e a polarização não ajuda. O problema é que faltam estudos para esclarecer se as UCs atrapalham a redução da pobreza.
Para esclarecer essa questão, os pesquisadores da Georgia State University Gustavo Canavire-Bacarreza e Merlin M. Hanauer conduziram um estudo na Bolívia, avaliando os municípios antes e depois da criação das UCs e utilizando dados do Censo para variáveis relacionadas com a pobreza.
Para surpresa de muitos, mas corroborando outros estudos metodologicamente mais robustos que começam a surgir, a conclusão foi de que as UCs contribuem para a diminuição da pobreza.
Os pesquisadores tomaram vários cuidados para desenvolver um estudo robusto. Estudos anteriores frequentemente tinham desenho experimental frágil, faltando controle para a atribuir variações na pobreza à presença de UCs. No caso, utilizaram técnicas estatísticas, como o matching, comparando municípios com e sem UCs. Municípios com UCs foram considerados aqueles em que a proteção excede 10% do território. Municípios sem UCs foram considerados aqueles com zero proteção. Outras situações, entre 0 e 10% foram descartadas.
O estudo teve que escolher, entre os indicadores do Censo boliviano, aqueles com potencial de representar a variável de interesse: a pobreza. Escolheram um índice de pobreza baseado em ativos e um indicador de Necessidades Básicas Insatisfeitas. Essa escolha revelou-se útil para as análises mas difícil de se traduzir para o leitor comum, pois não dá uma ideia monetária dos impactos.
Os resultados indicam que o estabelecimento de unidades de conservação não afetam negativamente os municípios. Ao contrário, parecem ajudar a reduzir a pobreza. Os resultados são similares aos obtidos por outros estudos na Costa Rica e na Tailândia, e apoiam a ideia de que a conservação da natureza não está em oposição aos objetivos de desenvolvimento, mas sim em complementação.
Apesar de fazerem essa conclusão, os autores ressaltam que não apontam como as UCs ajudam na redução da pobreza. Este é um passo importante para melhorar as políticas relacionadas.
Leia mais em CANAVIRE-BACARREZA, Gustavo; HANAUER, Merlin M. Estimating the impacts of Bolivia’s protected areas on poverty. World Development v. 41, p. 265–285 , 2013.